Eternas Crianças?

24-05-2011 21:37

 

Recebi um grande choque na primeira vez que Deus me revelou como eu e minha igreja

éramos infantis.

Quando iniciei meu ministério naquela igreja de Buenos Aires, ela contava com 184

membros. Começamos a trabalhar imediatamente, e após dois anos de muita organização e

trabalho de expansão chegamos à cifra de 600 membros. Havíamos triplicado nosso número.

Eu assistira a muitos congressos de evangelismo, e pusera em prática, na igreja, tudo o

que aprendera de novo. Estávamos orgulhosos de ter, como nosso ministro de educação

religiosa, um pastor graduado por uma escola superior dos Estados Unidos. Nossa escola

dominical era das melhores. A união de jovens estava muito bem, como também os grupos de

adolescentes — rapazes e moças — a união de homens, e todos os outros departamentos da

igreja.

Nosso sistema de assistência aos recém-converti-dos também era muito bom. Tínhamos

formulários de números 1, 2, 3 e 4 — um para cada categoria — homens, mulheres, crianças,

judeus, árabes — qualquer tipo imaginável. Mantínhamos um registro de todas as nossas

chamadas telefônicas e todas as visitas realizadas, e estávamos fazendo campanhas de

assinaturas de várias publicações cristãs. Os cartões de decisão eram uma ficha que nos

fornecia exatamente o nível em que cada pessoa se achava — se já havia sido batizada, e^c.,

etc.

A liderança ida denominação ficou tão impressionada com tudo isso, que fui convidado

a ser o orador oficial de dois congressos, para divulgar nosso sistema de assistência aos

convertidos e distribuir amostras de nossos formulários entre os pastores.

Entretanto, bem no fundo, eu sentia que alguma coisa não estava certa. Tudo parecia

correr bem, desde que eu trabalhasse dezesseis horas por dia. Mas quando eu relaxava o

ritmo, os resultados diminuíam. Isto começou a perturbar-me.

Por fim, resolvi parar. Reuni a junta diretora da igreja e disse-lhes: "Tenho que me

afastar duas semanas para orar."

Parti para o interior e entreguei-me à meditação e oração.

O Espírito Santo começou a quebrantar-me. A primeira coisa que ele me disse foi:

"Juan, aquilo que você tem nas mãos não é uma igreja, é um negócio."

Não entendi o que ele queria dizer.

"Você está promovendo o evangelho do mesmo modo que a Companhia Coca-Cola

vende seu produto", disse ele. Está fazendo o mesmo que o Readers Digest faz para vender

seus livros e revistas. Está empregando todas as técnicas aprendidas na escola. Mas, onde está

minha mão em tudo isso?"

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Fiquei sem saber o que responder. Tinha que reconhecer que minha igreja funcionava

mais como uma empresa do que como um corpo espiritual.

Depois o Senhor me revelou outra coisa.

"Vocês não estão crescendo", disse ele. "Vocês pensam que estão, porque subiram de

200 para 600 membros. Mas não estão crescendo realmente — estão apenas engordando."

O que quereria aquilo dizer?

"Tudo que você conseguiu foi agrupar mais pessoas da mesma qualidade das que já

havia. Ninguém está amadurecendo em Cristo. O nível permanece o mesmo. Antes vocês

contavam com duzentos bebês espirituais. Agora contam com 600."

Era verdade. Não podia refutar nem uma sequer daquelas palavras.

"Em decorrência disto", continuou o Senhor, "o que vocês têm é um orfanato, e não

uma igreja. Ninguém ali tem pai, espiritualmente falando. Você não é pai deles — é apenas

um atarefado diretor de orfanato. Está conservando as luzes acesas, está pagando as contas e

enchendo as mamadeiras de leite, mas nem você, nem ninguém está atuando como pai

espiritual para aquelas criancinhas."

Mais uma vez ele tinha razão.

Quando voltei para casa, comecei a notar inúmeras evidências desta infância

permanente — não somente em minha própria igreja, mas em todo o Corpo de Cristo.

Uma prova disso era que as orações eram sempre as mesmas. É de se supor que, se uma

pessoa está-se desenvolvendo em seu relacionamento com o Senhor, as coisas que ela diz

agora devem ser bem diferentes de quando ela foi salva. Mas isto não acontece.

Suponhamos que eu converse com minha esposa do mesmo modo que fazia quando nos

conhecemos. Lembro-me do primeiro dia. Ela era membro de minha igreja, e finalmente eu

lhe disse:

"Irmã Marta, gostaria de dizer-lhe algumas palavras em particular."

"Está bem, pastor", respondeu. "Onde deseja ir?"

Quando nos achávamos a sós, eu falei:

"Irmã Marta, não sei se já notou, mas tenho para com você, um sentimento diferente que

não tenho pelas outras irmãs da igreja."

Suponhamos que, agora, após mais de doze anos de vida conjugal e quatro filhos, eu

chegasse em casa e lhe dissesse: "Irmã Marta, gostaria de dizer-lhe algumas palavras em

particular. Não sei se já notou, mas tenho para com você um sentimento diferente que não

tenho pelas outras irmãs da igreja..." Dificilmente eu faria isto. Nós já evoluímos em nossa

forma de diálogo, e já deixamos para trás este estágio inicial.

Entretanto, na igreja, o nosso povo faz as mesmas orações de sempre e canta os mesmos

hinos. O diálogo nunca passa daquele estágio inicial.

Outra evidência desta infância são as divisões que há na igreja. Paulo disse aos crentes

de Corinto que o fato de uns se apegarem a Pedro, a Apolo e a ele próprio era sinal de

imaturidade espiritual. Os coríntios estavam brigando entre si. Eram partidários cada um de

um pregador. Mas pelo menos estavam na mesma igreja.

Em nossa época, nós não conseguimos nem divergir bem. Pertencemos aos mais

diversos grupos e nos reunimos em templos separados, e falamos mal uns dos outros. Se os

coríntios eram bebês em Cristo, nós nem nascemos ainda.

E em vez de melhorarmos estamos piorando. A cada ano que passa, existem mais

denominações. O Corpo de Cristo nunca esteve tão repartido.

Outra prova de imaturidade é que estamos sempre mais interessados em receber do que

em dar. Somos exatamente como criancinhas, constantemente querendo que o Senhor nos

abençoe, que ele faça isto ou aquilo para nós, que nos cure, nos dê felicidade, nos dê

dinheiro... nunca paramos de pedir. "Papai, me dê dinheiro; dê-me isto; dê-me aquilo."

A pessoa madura sabe dar. Dar é um atributo de um adulto.

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Não é interessante observar que os crentes estão sempre mais interessados nos dons do

Espírito do que no seu fruto? Se à igreja chega um pregador com o ministério de curas, ela se

superlota. As crianças adoram espetáculos. Mas a pessoa madura está mais interessada no

amor, alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Como as crianças, não sabemos dar o valor certo às coisas certas. Qualquer hora que

oferecermos a uma criança uma nota de cem dólares ou um chocolate para escolher, ela

preferirá o chocolate. Nós agimos da mesma forma com relação às coisas materiais. Sempre

preferimos uma bela casa, ou um carro novo, uma boa conta no banco, a quaisquer bênçãos

espirituais. Isto porque nosso conceito de valores não é amadurecido.

Nós chegamos até a buscar em Deus as coisas materiais. Não nos satisfazemos em

buscar nós mesmos a prosperidade; queremos convencer Deus a nos ajudar a obtê-la. Não

passamos de crianças egoístas.

Outra evidência — a falta de obreiros na igreja, gu não entendo isto, mas há pessoas que

já são crentes há dez, ou vinte anos e ainda não conseguiram levar outros a Cristo. O máximo

que fazem é convidar alguém para assistir ao culto.

"Por que não vem à nossa igreja? Temos um belo templo, todo carpetado, assentos

confortáveis, ar condicionado, e o pastor é uma excelente pessoa. Por que nao vem comigo?"

Se a pessoa aceita o convite, ele pensa que cumpriu seu dever.

"Pastor, trouxe um amigo ao culto. Daqui para a frente, o resto é com o senhor."

E assim, o pastor tem que pregar o evangelho, ganhar aquela pessoa para Cristo, batizála,

e cuidar dela daí por diante.

É interessante notar que Paulo não batizou quase ninguém. Ele escreveu o seguinte aos

coríntios: "Dou graças porque a nenhum de vós batizei, exceto Crispo e Gaio... também a casa

de Estéfanas; além destes não me lembro se batizei algum outro" (1 Co 1.14-16).

Como é então que em Atos 18.8, encontramos o seguinte: "Mas Crispo, o principal da

sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo, criam

a eram batizados"? Alguém estava batizando os novos convertidos; e não era Paulo. Deve ter

sido Crispo ou Gaio e outros pais espirituais, os quais logo depois passavam a cuidar do

desenvolvimento de seus filhos espirituais.

Todos os domingos nós pregamos o ABC da salvação. As pessoas aceitam e nós as

colocamos na classe de catecúmenos para se instruírem nas doutrinas a respeito da igreja,

batismo e outras doutrinas fundamentais; mas quem cuida delas depois disto? Quando acabam

o curso da classe, já estamos prontos para iniciar o doutrinamento de outro grupo, deixando

aqueles primeiros sem qualquer orientação complementar, para se desenvolverem até alcançar

a maturidade espiritual.

Não é de se admirar que percamos tantos deles.

Não podemos nos espantar de os resultados de nossas campanhas parecerem diminuir.

Os novos crentes — permitam-me dizê-lo claramente — aborrecem-se na igreja. Todo

domingo é a mesma coisa, os mesmos hinos do coro, a mesma pregação. Satanás não tem a

mínima dificuldade em atraí-los de volta para o reino das trevas.

De quem é a culpa? Estas pessoas nos ouvem sempre dizendo que elas precisam crescer.

Mas como, se elas não são alimentadas com outra coisa a não ser leite. O leite é um bom

alimento, mas só serve por pouco tempo; depois, a criancinha precisa de outras substâncias

mais nutritivas.

Contudo, os pastores não são os únicos culpados, pois os seminários e escolas bíblicas

não os preparam convenientemente. Se tudo que lhes ensinam é aquecer o leite, quem é o

culpado então?

Todos nós somos vítimas da estrutura denomina-cional em que fomos formados. Não

podemos escapar a isto; ela está gravada em nós. Mas podemos nos forçar a parar e pensar no

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que estamos fazendo. Se não pararmos nossa interminável ronda de atividades, para perguntar

a Deus se ele está nisso ou não, então seremos realmente culpados.

Foi-me muito difícil parar. O telefone tocava de manhã até a noite. Eu tinha que estar

constantemente lubrificando o maquinismo de minha igreja — uma máquina que eu próprio

montara — senão ela se desintegraria. Na Argentina, os pastores ainda são mais solicitados

que os de outros lugares, pois estão entre as poucas pessoas que possuem automóveis e assim

nos tornamos no motorista particular de todo o mundo. Temos que levar os doentes para o

hospital, e assim por diante, além de nossos próprios deveres.

Mas, graças a Deus, um dia eu parei. E isso provocou uma revolução em minha igreja.

Pela primeira vez, eu não estava apresentando meu programa ao Senhor e dizendo:

"Senhor, abençoa meus planos!" Agora eu dizia: "Senhor, o que queres que eu faça?"

Ê incrível o número de planos que um pastor faz e nao realiza. Eu já visitei muitas

igrejas e ouvi pastores dizerem: "No mês que vem, vamos iniciar um novo programa de

atividades. Tudo já está planejado e pronto para começarmos."

No ano seguinte, encontro aquele pastor e lhe pergunto: "Como foi aquele programa,

irmão?"

"Ah", replica ele, "não pudemos fazer aquilo. Mas na semana que vem vamos iniciar

uma nova programação."

Por que nossos projetos acabam sempre se desfazendo? Porque tentamos executá-los

utilizando crianças. E não se pode depender de crianças. Elas fazem grandes promessas ("Eu

farei; eu me comportarei direitinho; prometo que o farei.") Mas elas não as cumprem.

O Senhor teve que convencer-me de que parte de meu problema estava em que eu

pregava apenas leite. E eu pensara estar-me saindo tão bem! Mas tudo não passara do que o

autor de Hebreus chamou de "princípios elementares". (5.12-6.1.)

Arrependimento

Batismos

A imposição de mãos (o batismo do Espírito Santo, que na igreja primitiva geralmente

acontecia logo após o batismo nas águas, quando se impunham as mãos sobre a pessoa, ainda

na água).

A ressurreição dos mortos

O juízo eterno

Foi sobre isto que preguei durante vinte anos.

Examinei nossos volumes de escola dominical e descobri que eles versavam sobre os

mesmos princípios elementares, repetindo-os sempre.

Recordei o que aprendera na escola bíblica — a mesma coisa. (Não acreditam? Leiam o

índice de qualquer compêndio de teologia. Haverá um capítulo sobre a Bíblia, outro sobre

Deus, outro sobre o homem, depois sobre a salvação, depois o Espírito Santo, depois a

segunda vinda de Cristo, e finalmente escatologia. E isto é tudo. Nada além dos "princípios

elementares dos oráculos de Deus", como diz nossa versão.)

Eu pertencia a uma denominação que se orgulhava de pregar sobre quatro temas:

salvação, batismo do Espírito Santo, cura e a segunda vinda de Cristo. Chamávamos a isto

"evangelho completo". Outros substituem o item n.° 2, batismo do Espírito Santo, por

santificação.

Como é que isto pode ser chamado de evangelho completo, se o autor de Hebreus diz

que é elementar?

Não quero ter a pretensão de criticar ninguém. Eu também cometi estes erros. Fiquei

perplexo quando descobri que, na igreja primitiva, todas estas coisas — arrependimento, fé,

batismo nas águas, batismo do Espírito Santo e preparação para o tempo do fim — eram

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incorporadas à vida do crente no dia em que se convertia. Isto se constituía no ponto inicial do

qual ele partia em direção à maturidade espiritual.

Há pouco tempo um pastor de outra denominação me disse:

"Ah, Pastor Ortiz, eu agora estou penetrando águas bem profundas. Estou penetrando

em uma nova dimensão do evangelho que nunca pensei existir."

"O que aconteceu, irmão?" indaguei. "Ê que agora estou falando em línguas",

respondeu.

Isto não é nada", repliquei, "na igreja primitiva eles falavam em línguas no dia em que

eram salvos. Você pensa que atingiu o ponto máximo de sua carreira espiritual. Ainda está

nos primeiros passos, como a maioria dos crentes."

Fiquei muito chocado, certo dia, quando um rapaz de minha igreja me disse:

"Irmão Juan", disse ele, "sabe de uma coisa? Eu observei que depois que me converti,

há um ano atrás, aprendi muito nos primeiros seis meses. Mas de lá para cá, parece que sei

tudo que todos os outros sabem. Estou apenas me mantendo no mesmo nível; não estou-me

desenvolvendo, como naqueles primeiros meses."

Por que o seu pastor não lhe dava nada além de leite?

Comecei procurando descobrir o que poderia ser este alimento sólido. Vi que Paulo

disse aos coríntios que não podia dar-lhes alimentos sólidos, porque ainda eram bebês, e,

logicamente, seu regime alimentar era constituído apenas de leite. Sobre que fala ele em 1

Coríntios? Imoralidade na igreja, contendas entre irmãos, problemas conjugais, carne

sacrificada a ídolos, insubordinação, vestuário das mulheres, observação errada da Ceia do

Senhor, dons espirituais, a ressurreição dos mortos, e sobre como se levantar ofertas.

Nada a não ser leite, disse Paulo.

Mas ele nos deu uma pequena amostra de alimento sólido no capítulo 2.

"Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste

século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de

Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa

glória; mas como está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou

em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo

revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as cousas perscruta, até mesmo as

profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as cousas do homem senão o seu próprio

espírito que nele está? assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito

de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim o Espírito que vem de

Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também

falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito,

conferindo cousas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as cousas do

espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem

espiritualmente. Porém, o homem espiritual julga todas as cousas, mas ele mesmo não é

julgado por ninguém. Pois, quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós,

porém, temos a mente de Cristo." (1 Co 2.6-16.)

Mas no verso que se segue (3.1), ele volta a dirigir-se a "crianças em Cristo". A que é

que Paulo se refere neste capítulo 2?

Mais adiante ele discorre acerca de sua jornada aos comandos centrais do universo onde

"ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir" (2 Co 12.4). Que será que

Deus revelou a Paulo nesta ocasião? Ele não o incluiu em seus escritos do Novo Testamento.

Devemos lembrar que as epístolas foram escritas com o propósito de corrigir erros nas

igrejas. Elas não apresentam o veio principal do ensino apostólico, mas somente as

corrigendas. Nós não sabemos tudo que Paulo ensinou quando estava em Corinto, Antioquia,

Troas, Tessalônica e em outras cidades.

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Sobre o que versa o livro de Romanos? Sobre arrependimento. Hebreus — como está

claro pela passagem que citamos no início deste capítulo — foi formulado de modo bem

simples para que os "bebês" não se engasgassem. (Em nossos seminários, Romanos e Hebreus

são epístolas muito profundas, cujo estudo só é feito no terceiro ano.)

Não é muito animador constatar que nós ainda nem bebemos uma parte do leite que está

ao nosso dispor, nem digerimos o que já bebemos. O que faremos com a sabedoria que não

pertence a "este século"?

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Crescendo

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros

para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a

edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de

Deus, à perfeita varonilidade à medida da estatura da plenitude de Cristo. (Ef 4.11-13.)

Quando o Senhor começou a revelar-me soluções para nosso problema de crescimento,

iniciou-o por esta passagem de Efésios.

Minha tarefa era aperfeiçoar os santos e guiá-los à maturidade espiritual. Eu não fora

preparado para isso. Aprendera a agradar as pessoas, não aperfeiçoá-las. Este era o objetivo

das inúmeras atividades da igreja — entreter as pessoas, rr^ntê-las interessadas, conservá-las

envolvidas na obra.

Muitos pastores cujas igrejas eu visitei, indagavam-me quase no momento em que ali

chegava: "Irmão Ortiz, o senhor tem algumas idéias novas? Sabe de alguma novidade para a

União de Homens? para o trabalho de jovens?" Nós estamos sempre à espreita, procurando

arranjar idéias novas, atraentes, que segurem nosso povo na igreja. Se pudermos conservá-los

debaixo da graça de Deus até morrerem, então vencemos — é o pensamento geral.

Mas, na verdade, não é este o nosso ministério como pastores. Não admira que o

apóstolo tenha dito aos hebreus: "Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao

tempo decorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são

os princípios elementares dos oráculos de Deus" (5.12). Ele devia ter estado esperando algo

melhor — isto é, que os leigos eventualmente se tornassem mestres.

O texto de Efésios 4 não declara que os apóstolos, pastores e profetas tenham que fazer

o serviço cristão. Diz, isso sim, que eles tinham que preparar os santos para executá-lo. O

arquiteto não constrói os prédios que projeta; ele faz os cálculos e planos, e outros os

constroem. Se o arquiteto tivesse que projetar e depois ele próprio erguer as paredes de tijolos

e edificar o prédio, provavelmente, ele não faria mais que um edifício em toda a sua carreira.

Mas do modo como se faz, ele pode "erguer" vários prédios ao mesmo tempo. O ministério

apostólico é necessário em nossos dias. Precisamos de líderes que saibam traçar as plantas

dadas por Deus, sendo também aptos para treinar os crentes para o trabalho de construção do

edifício.

E não apenas isso, mas os arquitetos podem também formar outros arquitetos. Ou então,

para usarmos a linguagem bíblica, os pastores podem treinar novos pastores. As ovelhas

geram outras ovelhas; e por que não poderiam elas mesmas alimentar com leite os seus

cordeirinhos? Esse é o processo natural, e também o segredo da multiplicação.

Nosso alvo, afirmou Paulo, é chegar "...à perfeita varonilidade, à medida da estatura da

plenitude de Cristo" (Ef 4.13). O Pai quer que todos cresçam até alcançar a estatura de Cristo.

Os pastores devem começar buscando para si mesmos a maturidade; então poderão levar suas

ovelhas a experimentar crescimento semelhante.

Como resultado disso, continua Paulo nos w. 14 e 15, não seremos mais "como

meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina... mas,

seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo".

É como acontece nas escolas. Quando passamos para o primeiro ano primário já

podemos ensinar a outros tudo o que aprendemos no jardim da infância. Um ano depois,

devemos ter passado para o segundo ano, e estar aptos a ensinar a outros o que aprendemos no

primeiro ano, e os do primeiro ano devem estar ensinando sobre o jardim da infância. Em

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pouco não estaremos mais ensinando o ABC do evangelho, mas isso não quer dizer que o

tenhamos esquecido. Continua sendo ensinado por outros, em níveis inferiores, e o processo

de crescimento continua.

De que modo Paulo poderia sentir-se desejoso de partir, se não tivesse discipulado

homens como Timóteo, Filemom, Epafras e outros mais? Jesus voltou ao céu tranqüilo e

satisfeito porque deixava aqui onze réplicas de sua pessoa. Os apóstolos não precisaram

escrever a um bispo qualquer pedindo: "Por favor, mande-nos um novo pastor. O nosso acaba

de partir para o céu." Eles haviam alcançado a maturidade. Estavam preparados para assumir

o ministério deixado por Jesus.

Por que razão, quando alguém deseja ser treinado para o ministério é necessário que

saia da igreja e vá para um seminário? A igreja não está cumprindo a sua tarefa. Se os

pastores estivessem preparando os santos para o desempenho do seu ministério, como manda

a Palavra, os seminários seriam desnecessários. Deus só tem um estabelecimento seu na terra

— a Igreja. Ela é tudo que ele queria.

Acho bom dar um esclarecimento: não sou contra seminários, institutos bíblicos e

organizações dessa natureza, que colaboram com a igreja. A igreja está fraca e precisa dessas

muletas. E glória a Deus por elas. Todavia, não devemos gastar nosso tempo montando uma

fábrica de muletas, e, sim, buscar a cura da Igreja.

No momento devemos cuidar em não tomar as muletas daqueles que estão fracos. Não

há razão por que se opor aos seminários, organizações de jovens, etc; são úteis para manternos

de pé. Porém, quando a cura se efetivar, as muletas serão postas de lado. Oremos pedindo

essa cura.

De que maneira ela poderá ocorrer? A igreja terá condições de crescer espiritualmente

ao ver a sua liderança se firmar no Senhor. Em 1 Coríntios 12.28, Paulo apresenta uma

progressão: "A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar

profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar,

socorros, governos, variedades de línguas."

Eu nunca prestara grande atenção a estas palavras: "uns... outros... e outros... e outros",

enquanto não comecei a pensar nesta questão de crescimento. Na verdade, eu pensava que

meu ministério fosse bem amadurecido pois girava em torno de cura, administração e línguas.

Eu não percebia que todas estas coisas se achavam no degrau mais inferior da escala.

Mas, quando busquei o Senhor a sós, ele começou a mostrar-me que este verso

apresentava uma pirâmide. O apóstolo era um homem que profetizava, ensinava, operava

milagres e curas, auxiliava a outros, administrava e falava em línguas.

Compreendi também que o dom de línguas não era o diploma que se recebe no fim do

curso, mas sim uma das primeiras lições aprendidas. Entendi que minha igreja, apesar de ter

seiscentas pessoas que falavam em línguas, em vez das duzentas iniciais, não havia crescido,

havia apenas engordado.

Comecei a perceber por que a família de Deus não funcionava bem. Na maioria das

famílias, o primeiro filho já tem dois ou três anos de idade quando nasce o segundo. E quando

vem o terceiro, o segundo já está caminhando e o primeiro quase na época de entrar para a

escola.

Mas, na igreja, quando o segundo filho nasce, o primeiro ainda é bebê. Quanto maior o

número de crianças que nascerem na igreja, maior é o número de fraldas que temos para

trocar ao mesmo tempo.

E, se todos estão crescendo, ministros e ovelhas, então pode haver harmonia. Vejamos o

exemplo de Paulo. Ele não foi apóstolo desde o início; era apenas um discípulo que

testemunhava nas igrejas. Ao que parece, ele falou em línguas pela primeira vez quando

Ananias impôs as mãos sobre ele (At 9). E ele continuou a crescer. Em Atos lie 12, ele era

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auxiliar de Barnabé. Depois, operou milagres e curas, e em Atos 13.1, ele é mencionado entre

os profetas e mestres de Antioquia.

Depois, então, ele foi enviado como apóstolo.

O ministério de cada crente deve seguir estas mesmas diretrizes. Mas sabe o que se

passa na igreja moderna? Nós, os pastores, paramos a certa altura do caminho; sabemos falar

em línguas, administrar, ajudar os outros, operar algumas curas e até ensinar — mas aí

paramos de nos desenvolver. Tornamo-nos como tampões de cortiça emperrados num

gargalo. As ovelhas crescem e crescem, e passam a se acumular atrás de nós incapazes de

seguir em frente, enquanto nós próprios não crescermos um pouco também. Elas continuam a

ouvir nossos sermões, e daí a pouco, já sabem tudo que nós sabemos, e a partir de então,

estamos numa câmara de pressão.

O pastor não se torna nesta rolha de cortiça intencionalmente; como disse antes, ele é

vítima da estrutura, como todos nós. Sempre foi assim.

Se a pressão se torna forte demais, o pastor fica meio incomodado, e pede ao bispo para

ser transferido. Então o bispo retira aquela rolha e coloca outra em seu lugar.

Se se trata de uma igreja cuja denominação não tem bispos, o problema é mais grave

ainda. A pressão continua a aumentar e, por fim, a câmara explode, e o tampão voa longe.

Naturalmente, ele fica meio abalado com a explosão, e, às vezes, a situação é tão séria, que

ele não pode mais continuar no ministério.

Logicamente, tudo isto pode ser evitado, se o pastor continuar a crescer até o

apostolado, pois assim as ovelhas crescem com ele.

Se um pastor é verdadeiramente um pai para sua congregação, ele não pode ser

removido (ou explodir) de dois em dois ou três em três anos. Que família muda de pai de dois

em dois anos? Talvez nossas igrejas sejam mais como clubes que elegem seu presidente por

certo período de tempo, e depois, vencido aquele termo, elegem outro, Mas, se somos uma

família, somos uma família, e temos que permanecer unidos. A medida que os filhos crescem,

o pai vai passando as responsabilidades para eles.

Eventualmente, o ministro está apto para ser enviado como apóstolo — que foi o que

aconteceu a Paulo e Barnabé, descrito em Atos 13. Eles haviam se tornado os principais

edificadores de igrejas; haviam completado todos os estágios. Agora achavam-se preparados

para implantar novas igrejas.

Enquanto eu me encontrava na América do Norte, recebi várias cartas de meus

discipulandos de Buenos Aires. "Nós choramos muito quando você partiu", diziam. "Na

verdade, nós choramos todas as vezes que você viaja. Mas depois que você já se foi, é que nós

compreendemos o quanto precisávamos ficar sozinhos."

Há quatro anos atrás, alguns deles não sabiam nem dizer "Amém" sozinhos. Agora são

os pastores da igreja, e eu posso ficar fora durante seis, sete e até oito meses do ano, pois eles

estão em meu lugar. Se eu permanecesse lá o tempo todo, eles nunca se desenvolveriam.

Quando estou na igreja, eles não querem pregar, nem dirigir o cântico. Sou como um tampão

de cortiça. Mas, quando eu saio, eles são obrigados a fazê-lo.

Também Jesus, um dia, deixou sua congregação, e por fim deixou a própria terra, e

assim seus discípulos tiveram que ficar sozinhos e se desenvolver.

Em nossa igreja moderna — que funciona às avessas — quem é enviado para fundar

novas igrejas? Rapazes, mal saídos do seminário. Eu comecei quando contava vinte anos. Não

sabia bem o que estava fazendo. O que consegui não foi criar um pomar florescente, mas

instalar uma banca de frutas numa esquina. E a banca precisava estar constantemente sendo

suprida com mercadoria trazida de outros lugares. Por si própria ela não produzia uma só

vida. Todas as vezes que eu tinha que sair, precisava apelar para outro pastor: "Por favor,

venha pregar em minha banca de frutas pois tenho que viajar."

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Sendo os principais edificadores da igreja, Paulo e Barnabé estavam aptos para cultivar

um pomar vivo, abundante de frutos. Permaneciam num certo lugar por algum tempo, e

depois seguiam em frente. Alguns anos mais tarde, Paulo disse: "Voltemos agora para visitar

os irmãos por todas as cidades, nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como

passam" (At 15.36). E eles voltaram. E os pomares ainda estavam ali, e continuavam se

desenvolvendo.

Depois de ter estado em Tessalônica, ele lhes escreveu para dizer que "Não só na

Macedónia e Acaia, mas por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de

não termos necessidade de acrescentar cousa alguma; pois eles mesmos, no tocante a nós,

proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio" (1 Ts 1.8,9).

Creio que está bem claro — não está? — por que foi que o Espírito Santo disse à igreja

de Antioquia: "Separai-me agora a Barnabé e a Saulo" — dois dos principais líderes da igreja

— "para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2).

Nós agimos ao contrário. O pastor de sucesso é aquele que permanece no mesmo lugar

todos os domingos do ano, pelo maior espaço de tempo possível. Na igreja primitiva, o

melhor pastor era o que conseguia que seus discípulos se desenvolvessem mais rapidamente e

melhor, desse modo libertando-o para seguir adiante, e lançar-se em outra empresa. E não era

que ele fosse afastado do cargo, mas o que acontecia era que agora ele podia deixar aquela

igreja nas mãos de seus filhos, e partir para outro lugar. Mas depois ele sempre voltava ao seu

ponto de origem, assim como Paulo voltava para Antioquia.

Hoje nossos missionários não operam nessas bases. Os melhores pastores ficam na

América, cremos. Como conseqüência disso, os missionários não são realmente apóstolos (as

duas palavras derivam da mesma raiz grega). Eles são apenas pastores. Primeiramente, atuam

como pastores na América; depois pegam um avião e partem para a Argentina, e vão atuar

como pastores ali. Será que o avião os transforma em missionários?

Isto deve ficar muito caro para as igrejas americanas, pois um pastor argentino pode

fazer o mesmo trabalho, por somente duzentos dólares mensais. O que faz de uma pessoa um

verdadeiro apóstolo ou missionário? Sua experiência e o dom de Deus que nela habita e que a

capacita para planejar toda a estratégia do trabalho, para toda uma região, a fim de preparar

obreiros, cultivar pomares vivos em toda parte.

Nós temos que crescer. Temos que deixar nossa infância permanente, e ingerir alimento

sólido, até que estejamos preparados e possamos preparar outros para disseminar o Reino de

Deus.

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Membros ou Discípulos?

Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio

santo. (1 Pe 2.5.)

Se ao menos esta declaração de Pedro pudesse ser aplicada aos crentes de hoje em dia.

E em alguns lugares talvez possa, mas o mais comum é a igreja não ser uma casa espiritual —

mas apenas uma pilha de tijolos soltos. Existe uma grande diferença entre uma e outras

Cada membro da congregação é um tijolo, e todos I nós nos esforçamos arduamente

para conseguir mais tijolos. Até o pastor trabalha em evangelismo, no intento de levar mais

tijolos para o local da construção.

Mas existe um problema com este material solto — os tijolos podem ser roubados. O

pastor e o pessoal da igreja têm que estar sempre atentojs, pois alguém de outra igreja pode

vir e roubar alguns tijolos de seu lote. E, na verdade, estão todos tão atarefados nisso, que o

edifício nunca é construído.

Nós somos a alvenaria de Deus, mas ainda não fomos assentados no lugar devido, em

seu edifício, para que possamos sustentar nossa parte da responsabilidade, e, fortalecer a

estrutura. Se tivéssemos sido colocados no lugar, saberíamos quais os tijolos que estão abaixo

de nós e quais os que estão acima, e saberíamos como nos relacionar uns com os outros.

Mas, atualmente, o que fazemos é ficar o tempo todo vigiando uns aos outros. Temos

tanto medo que alguém possa escapulir! E enquanto isso, esquecemo-nos dos perdidos que se

encontram lá fora, ao frio, procurando uma casa aquecida que os abrigue.

Se o pastor pensa em nos pegar e colocar em nosso lugar do edifício, resistimos. A

igreja tem que funcionar democraticamente, dizemos. Não nos submetemos a pessoa alguma.

Submetemo-nos somente ao voto da maioria (e, por vezes, nem a ele). Já ouvi crentes dizerem

orgulhosamente: "Não sigo homem algum — sigo a Cristo." Tal afirmação pode parecer

muito espiritual, mas, na realidade, é um terrível engano. Ela significa que a pessoa quer fazer

a própria vontade; ela nem sabe o que significa seguir a Cristo.

Paulo disse: "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (1 Co 11.1). Nós,

os pastores, às vezes, tememos dizer isto, porque não estamos vivendo como devíamos. E, por

isso, o que falamos é: "Não olhe para mim, irmão. Siga a Bíblia."

Sabe o que isto quer dizer? Isto quer dizer o seguinte: "Eu já tentei e não consegui.

Agora tente você." Não admira que os leigos se sintam desencorajados. Se o pastor não

consegue fazer aquilo que a Bíblia diz, quem conseguirá?

Paulo não tinha medo de colocar-se como modelo a ser imitado. Ele disse o seguinte aos

filipenses: "O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso

praticai; e o Deus da paz será convosco" (Fp 4.9). Isto pode não ser muito democrático, mas

dá como resultado a edificação de um prédio forte.

A razão por que isto dá certo é que se baseia no princípio da multiplicação. Certa vez

uma senhora idosa apresentou-me uma moça.

"Esta jovem é minha neta", disse ela.

"É mesmo?" indaguei.

"É. E eu já tenho bisnetos", informou ela. "E uma delas já tem quinze anos. Se ela se

casar breve, eu posso até chegar a ver meus trinetos."

"Quantos filhos a senhora teve?" perguntei.

"Seis."

"E quantos netos?" i| "Trinta e seis."

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"E quantos bisnetos?"

"Não sei", respondeu ela. "Nunca contei."

Nas mesmas proporções, ela poderia ter 216 bisnetos e 1296 trinetos. E a sua família era

realmente notável. Um dos filhos era médico; outro, advogado. Dois eram fazendeiros. Um

deles era motorista de praça. Entre seus netos contavam-se engenheiros e muitos outros

profissionais liberais.

Se eu lhe perguntasse: "E como foi que a senhora conseguiu criar uma família tão

numerosa — isto é, alimentar bem todos eles, vesti-los, dar-lhes boa educação escolar?" ela

teria respondido: "Mas eu não criei todos. Criei apenas seis."

Nós não aplicamos este processo de multiplicação na igreja. O pobre do pastor tem que

tomar conta de todos, e aí é que está o problema.

Se quisermos crescer e expandir e assentar os tijolos para edificar o edifício, temos que

modificar este estado de coisas. Temos que fazer discípulos para que estes possam fazer

outros discípulos. Temos que ser pais, e não diretores de orfanatos.

Foi assim que Jesus agiu. E não foi ele o melhor pastor que já existiu? Entretanto, ele

cuidou apenas de doze homens. O verso de Mateus 9.36 diz: "Vendo ele as multidões,

compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor."

Por quê? Não era ele o bom pastor? Sim, era. Mas um pastor não pode ocupar-se de um

ilimitado número de ovelhas, mesmo que este pastor seja Jesus. Se ele não pôde fazer mais

que doze discípulos de uma vez, como é que eu posso fazê-lo?

Jesus colocou-os no edifício. Quando partiu, eles já sabiam o que fazer: sair para formar

outros discípulos, assim como Jesus fizera com eles.

Então eles partiram e começaram a ensinar e a testemunhar de casa em casa, em

pequenos grupos. Nós não fazemos assim na igreja moderna. Aos domingos, nós reunimos

todos no refeitório do orfanato e dizemos: "Atenção! Abram todos a boca. Aí vai o almoço!"

E depois, atiramo-lhes o alimento, a todos eles de uma vez, e no final dizemos: "Adeus. Estão

dispensados, e até o próximo domingo!"

Isto não é modo de alimentar crianças. Temos que tomar cada uma no colo, uma a uma,

e colocar o bico da mamadeira em sua boca. Depois que ela cresce um pouco mais, já começa

a alimentar-se sozinha, e por fim, poderá até ajudar-nos a preparar a mamadeira para os mais

novinhos. Ela já ocupa sua própria posição de desenvolvimento dentro da família.

Assim, trata-se de um ministério de edificação, de construção, e não de ama-seca.

Naturalmente, temos que perguntar a nós mesmos o que é que estamos edificando. Uma

denominação? Descobri que eu havia feito isto por vários anos. Nas convenções, eu tinha

muito orgulho das realizações de meu grupo: era um outro reinozinho pequeno.

Então eu compreendi que Paulo nos conclama a trabalhar em prol da edificação do

"corpo de Cristo" (Ef 4.12). Nós não entendemos isto hoje em dia.